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Desigualdades territoriais

Projeto desenvolvido para a Exposição Poéticas Latinoamericanas, parte da III Bienal Latino Americana de Joalheria Contemporânea, 2021
Curadoria: Estúdio Honorato + Vicencio
mais sobre o projeto em: www.poeticaslatinoamericanas.com

   Falar sobre a identidade latinoamericana e suas poéticas é para mim, de alguma maneira, falar sobre as desigualdades em que esses territórios vêm sendo submetidos ao longo dos anos, desde a colonização europeia. Desigualdades essas que, em seus aspectos sociais, econômicos ou territoriais, conduzem a uma repetição de padrões polarizados na forma de habitar ou viver. 

   Nesta ótica, a pressão com que a sociedade contemporânea é empurrada, principalmente em grandes aglomerados urbanos, leva a situações de extrema pobreza. Atualmente, inúmeras famílias são obrigadas a ocuparem áreas inadequadas, numa tentativa desesperada pela sobrevivência, estabelecendo na autoconstrução a saída viável para se ter uma moradia.

 

   De um lado, impera uma lógica de dominação capitalista que expulsa e obriga populações a se autoconstruírem em áreas cada vez mais densas e afastadas dos grandes centros, de outro, elites cada vez mais ricas gozam do poder habitar a cidade “dentro das regras”. No caso do Brasil, essa desigualdade sócio-territorial é claramente percebida nas características das habitações familiares das favelas, em sua maioria autoconstruída.

 

     O ponto de partida da construção de uma casa em favela é o recolhimento de matérias, sobras e lixos de outras construções. Enquanto muitos edifícios e casas são construídos com ricos materiais, a partir de um princípio capitalista de especulação imobiliária, milhões de famílias se reinventam no aproveitando desse descarte da construção civil, fazendo uma recomposição dos fragmentos encontrados ao acaso.

   O resultado dessa mistura sempre é diferente daquele a que o material a princípio foi destinado, uma porta pode ser o telhado, por exemplo. Isso torna os resultados totalmente aleatórios e, por isso, tanto a favela, quanto a moradia autoconstruída está sempre em mutação, seja pela sua expansão ou remoção, seja pela infinita reconstrução.

  Esta metodologia construtiva vai além de uma questão estética, é uma condição de sobrevivência, não apenas física, mas também comunitária e cultural. São manifestações de urgência concreta, que em um olhar generalista pode-se parecer caótico, mas numa observação mais a fundo, enxerga-se uma grande capacidade e criatividade para improvisação dos recursos materiais e econômicos disponíveis. 

   É importante se destacar que esses territórios, em que a desigualdade se escancara, mesmo sem ações e políticas do poder público, são territórios de luta e força coletiva. A desigualdade é inversamente proporcional aos laços comunitários e de solidariedade. Ao contrário de bairros ricos, em que a lógica do individualismo é regra, nas favelas a regra é a participação coletiva e cooperação solidária, onde a diversidade é o modo de vida.  

 

 Diante desta realidade deixo a pergunta: a autoconstrução é o problema ou a solução?

Ficha Técnica

Ano: 2021

Materiais diversos encontrados ao acaso: concreto, ferro, madeira, pregos.

Fotógrafo: Ygor Carozzi

 © 2021 por Joana Gabos

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